Balada da banda de abertura
Slim Dunlap, guitarrista da fase final dos Replacements, descansou
O guitarrista e compositor Slim Dunlap morreu na última quarta. Ele ficou conhecido por substituir Bob Stinson na última fase dos Replacements e tocou em dois discos deles: All shook down e Don’t tell a soul. É uma fase mais pop e menos inspirada da banda, mas ainda com grandes músicas.
Slim vivia com as sequelas de um derrame desde 2012. Foi nesse contexto que Paul Westerberg e Tommy Stinson se uniram como Replacements para gravar um EP de covers para ajudar a pagar o tratamento do ex-companheiro de banda. Vários outros artistas se juntaram a um projeto chamado Songs for Slim cantando músicas dele para arrecadar fundos.
Depois do EP, os Replacements fizeram uma turnê pelos EUA e algumas cidades da Europa. Na fase final do giro, Westerberg passou a usar camisetas brancas com letras que formaram a frase “I have always loved you. Now I must whore my past” (Eu sempre te amei, agora preciso prostituir meu passado”). Eu tive a sorte de assistir a quatro desses shows e a prostituição do passado de Paul Westerberg foi um dos espetáculos mais divertidos da minha vida.
Voltando ao Slim. Além dos Replacements, ele tocou com o artista Curtiss A e outras várias bandas, além de ter uma carreira solo admirada por ninguém menos que Bruce Springsteen. A música dele que sempre me pega é Ballad of the opening band (O Jeff Tweedy fez um cover dela no projeto Songs for Slim).
A música conta a história de uma (qualquer) banda pequena que vai abrir pra algum artista mais conhecido em um bar vazio. O show começa com algumas desafinações e vai piorando lentamente. O sonho seria ser um cantor de hits, mas no lugar disso ele está apenas aquecendo o palco. Esse sonho desaba de vez quando o headliner começa a tocar e dá uma piscadinha pra ele. “Meu deus, nós fomos uma merda ou o que?”, ele pensa. No fim da noite um desconhecido elogia a banda e pergunta se ele não quer abrir pra ele algum dia. O ciclo se fecha, é uma vida fadada a se repetir.
Esse vídeo de cima resume bem a situação. O cara tocando uma música super legal, mas o público conversando alto pra caralho, provavelmente esperando a próxima atração. Um dos livros que eu li sobre os Replacements (acho que o Trouble Boys, do Bob Mehr) fala de uma turnê que eles abriram para o Tom Petty e a plateia caga pra eles. O Paul Westerberg começa a imitar trejeitos e brincadeiras do Tom Petty e, ao não conseguir nenhuma reação, tira sarro de quem chegou mais cedo pra nada: “Daqui alguns minutos o Tom Petty vai fazer a mesma coisa e vocês vão amar”.
A balada da banda de abertura pode ser levada pra qualquer carreira ou pessoa com aspirações. Quem nunca teve uma vaga de emprego ou uma promoção negada? Uma pessoa que você gosta e ela prefere ficar com alguém que você acha idiota? Frustração é o estrato da vida. Se você ainda é jovem, eu te prometo, você vai ter muito mais decepções do que realizações, mas é o que tem pra hoje (e o hoje é todo dia até a chegada da morte). É como diz David Briggs, que foi produtor do Neil Young: “A vida é um sanduíche de merda. Dê uma mordida ou morra de fome”.
Sabe o que é mais engraçado? Slim, quando perguntado sobre a música, disse que não é uma história triste já que a banda de abertura também está tocando sempre. É isso. Força minhas bandinhas de abertura.
Com essa mensagem motivacional, eu me despeço de você, mas não de 2024. Semana que vem tem a última do ano. Feliz natal.
que texto foda, mano. eu amo a fase dos mats com ele - especialmente o all shook down. e que invejinha de vc ter visto ao vivo mr westerberg se prostituindo hehe. vou atrás de todas as indicações, não conheço nenhuma. obrigado por mais uma bela newsletter!