Oi,
Recentemente, tive a ideia de resgatar entrevistas do meu arquivo pessoal para criar um podcast novo.
Ainda não sei qual vai ser a periodicidade, talvez uma segunda-feira por mês? Estou apenas aproveitando minha completa falta de assunto para tirar esse projeto do papel.
Essa primeira entrevista é com Alec Ounsworth, do Clap Your Hands Say Yeah. Ela foi feita em 2014, quando a banda fez uma apresentação gratuita por aqui em uma parceria com uma marca de bebidas. O curioso é que ela jamais foi publicada.
Na conversa, Alec fala sobre a carreira, que começou com um hype danado depois do lançamento do álbum homônimo, de 2005. “Clap your hands say yeah” foi elogiado até pelo saudoso David Bowie. Ele também comenta as mudanças na banda que, convenhamos, virou praticamente um projeto solo.
O disco que ele tinha acabado de lançar na época trazia um dueto com Matt Berninger, do The National. A inspiração para a participação do amigo foi outro dueto: Lou Reed e John Cale em Songs for Drella.
Ele ainda relembrou um show do Gilberto Gil em Nova York, disse que foi uma das melhores apresentações que já viu e comentou sobre a vontade de, de repente, tocar junto com o brasileiro.
Antes de se despedir, ele pediu para falar sobre futebol e demonstrou solidariedade aos brasileiros por causa do 7 a 1.
O Clap Your Hands Say Yeah toca aqui em São Paulo, no dia 12 de junho, a íntegra do clássico primeiro álbum.
A conversa está em inglês e tem legenda, mas vou colocar aqui abaixo a transcrição completa em português (essa parte feita com ajuda da muito criticada IA). Até a semana que vem.
Alô?
Oi, Sr. Onsworth.
Sim.
Oi, aqui é o Alex do Brasil de novo.
Ah, sim. Você pode falar agora?
Sim, sim, desculpa por antes.
Ah, tudo bem.
Essa é a primeira vez que você passa mais de dois anos sem lançar um novo trabalho. Por quê? Por que demorou tanto dessa vez?
Ah, a gente não sabe. Quer dizer, geralmente demora um pouco mesmo entre os álbuns. Eu acho que antes disso foram uns 4 anos entre discos. Então, acho que hoje em dia você fica envolvido com um álbum por muito mais tempo do que no passado.
Muito disso tem a ver com o fato de que as pessoas não compram mais discos como antes. Então, o que a gente faz é sair em turnê por um bom tempo com cada álbum. E aí não sobra muito tempo pra escrever o próximo enquanto você ainda está na estrada. Pode ser isso. É uma teoria minha.
Li em outras entrevistas que você sempre tenta se lembrar por que começou tudo isso. E vi no site que você está fazendo shows em salas de estar, o que achei incrível. Isso também tem a ver com essa busca pelas origens? Fazer shows pequenos e tudo mais?
Sim, acho que sim. Eu gostaria de ter feito isso antes, quando as coisas começaram a sair um pouco do controle no começo. Eu queria ter feito isso pra me reconectar com as pessoas. Isso é o que eu mais gosto de fazer.
E é uma ótima forma de conhecer quem está ouvindo, quem acredita no que eu faço — ter essa experiência mais pessoal. E você perde um pouco disso quando toca em shows maiores.
Então, eu adoro fazer esses shows.
Eles me ajudam a manter os pés no chão e me lembrar por que comecei tudo isso.
Você já tentou fazer isso aqui no Brasil?
Não, mas eu gostaria. Queria fazer isso em todos os lugares, na verdade.
Acabei de voltar do Japão e pensei “seria legal fazer isso por lá também”, mas pode ser um pouco mais difícil.
Mas sim, gostaria muito.
Por enquanto só fiz nos EUA e na Europa.
Este ano foi a primeira vez que você fez isso, certo?
Sim, foi a primeira vez. Já fiz uns 50 ou 60 esse ano nos Estados Unidos e na Europa.
Acabei de começar.
É um pouco assustador no início porque você não sabe exatamente no que está se metendo, mas acho que é ótimo pra mim.
Não sei se funciona pra todo mundo, mas eu estava precisando disso, sabe?
Nem todo mundo tem essa necessidade, e tudo bem.
Tem gente que se sente confortável no palco com aquela distância. Eu prefiro estar mais próximo, cara a cara mesmo.
Você sempre foi um artista independente. Qual é a importância disso pra você? Isso se reflete na sua composição?
Acho que sim. Quer dizer, eu não preciso fazer sempre o mesmo disco, e isso é ótimo.
Muita gente, quando vê que um álbum funcionou ou fez sucesso, tende a repetir a fórmula e fazer o mesmo álbum várias vezes. E são incentivados a isso... por pessoas.
Mas eu não gosto disso.
Acho que se você é criativo, precisa correr riscos.
Algumas pessoas vão acompanhar, outras vão querer mais do mesmo.
Quem quiser mais do mesmo, do meu ponto de vista, vai ter que voltar e ouvir o material antigo.
É isso.
Sobre a autoria: desta vez você escreveu o álbum praticamente sozinho, sem a ajuda de alguns membros da banda que saíram. Como isso impactou na criação do álbum Only Run? E o que define um álbum do Clap Your Hands Say Yeah, na sua opinião?
Sempre achei que o Clap Your Hands se distinguia pelo uso de teclados e sintetizadores. Acredite ou não, é assim que eu via a banda desde o começo.
Então, pra mim, isso é o principal fator distintivo.
Mas não sei. Acho que alguns projetos simplesmente acabam com um nome, e a partir daí seguem em frente.
Tentar definir o Clap Your Hands como algo específico é difícil.
Mas eu sempre vi os teclados como o que define a sonoridade da banda.
Preciso olhar de forma simples, senão acabo me confundindo.
A saída dos outros integrantes mudou algo na composição ou na gravação das músicas?
Ah, com certeza.
Quando você escreve uma música e entrega pra outra pessoa tocar, mesmo que as notas sejam as mesmas, cada um interpreta de um jeito.
Então, claro que muda.
Mas, honestamente, não sei te dizer exatamente o quanto, porque estou muito envolvido no processo. Estou muito próximo disso pra ter clareza.
E a participação do Matt Berninger, do The National? Como surgiu? Vocês fizeram turnê juntos, né?
Sim, fizemos turnê juntos há muito tempo, uns 9 ou 10 anos atrás.
Mantivemos contato. Às vezes nos encontramos em festivais, ou quando eles passam por Filadélfia.
O Sean (da minha banda) acho que estava conversando com o Matt, se atualizando, e sugeriu que ele participasse de uma música.
Achei interessante. E acho que funcionou.
Foi uma mudança de ritmo e trouxe algo inesperado.
Li em uma entrevista sua à NPR que você queria algo na linha das colaborações do Velvet Underground, como Lou Reed e John Cale. Tipo “Lady Godiva’s Operation”...
Sim, exatamente.
Acho que naquele disco e também em Songs for Drella, o jeito como as vozes do John Cale e do Lou Reed se alternam cria uma forma muito única.
Eu estava tentando entender como isso funcionaria no meu álbum.
Escolhi a música pensando nisso — achei que a voz do Matt se encaixava bem nessa dinâmica.
Ele tem um instinto vocal que funciona nesse estilo.
E pensei: se ele conseguir “cortar” a música como o Lou Reed cortava as partes do John Cale, poderia funcionar.
Eu já tinha gravado a minha parte e achava que estava boa, então queria apenas algo que fosse melhor ou pelo menos diferente.
Acho que conseguimos.
Não era pra estragar a música — eu já gostava dela.
O Dave Fridmann, que trabalhou conosco, também gostava da versão original.
Mas quando colocamos a voz do Matt, tudo fez sentido.
Você é fã de esportes, né? Gosta de futebol?
Sim, gosto.
Você assistiu à Copa do Mundo?
Claro!
Foi uma das Copas mais emocionantes desde que comecei a acompanhar, acho que desde 1986.
Muitos jogadores jovens e talentosos.
Eu torcia pra que o Brasil fosse longe, e fiquei triste com a forma como foi eliminado.
Mas ainda acho que o Brasil sempre tem uma equipe boa, geralmente jovem, e com muita renovação por causa do talento do país.
Então, não acho que aquilo foi o fim de nada.
A Alemanha conseguiu ganhar como costuma fazer, e eu assisti o quanto pude — estava em turnê, mas acompanhei bastante.
E achei que o Brasil fez um ótimo trabalho como anfitrião.
Você pretende ir a algum jogo enquanto estiver aqui?
Adoraria.
Você sabe se tem algum jogo dia 19 ou 20?
No dia 20 eu toco aqui, então só se for no dia seguinte...
Acho que vai ter um jogo aqui em São Paulo domingo, depois do seu show no sábado.
Sério?
Adoraria ir.
A gente estava falando sobre isso — vamos fazer turnê pela Europa, e eu só vi alguns jogos fora dos EUA.
O último foi em Eindhoven, assisti ao PSV com um amigo.
Mas nunca vi um jogo do campeonato brasileiro.
Gostaria muito.
Tomara que dê tempo, mas acho difícil.
E sobre o show? Está animado? É sua primeira vez no Brasil? Vai preparar algo especial ou é o mesmo show de sempre?
É sempre diferente, mas seria legal fazer algo fora do comum.
Vou ver o que posso fazer até lá.
Não tenho muitos contatos... talvez eu precise de você pra isso.
Normalmente, quando trago convidados pro palco, o show fica mais interessante.
Por exemplo, em Toronto, um amigo meu, o Kevin do Broken Social Scene, estava no palco e a gente fez uma versão improvisada de The Skin of My Yellow Country Teeth.
Ficou um pouco estranho, mas acho que funcionou.
Talvez eu faça algo parecido aqui.
O Gilberto Gil está em São Paulo?
Ele tocou aqui ontem, num show gratuito no parque Ibirapuera. Foi incrível.
Imagino!
Eu vi ele uma vez num lugar pequeno, no Carnegie Hall de Nova York.
Um dos melhores shows que já vi. Era só ele no palco.
Sem banda. Foi espetacular.
Ele é muito talentoso.
Se você puder espalhar a palavra e conseguir trazer ele pro palco comigo, seria ótimo!
Vou tentar! E quer deixar alguma mensagem pros fãs sobre o show ou o novo disco?
Ainda tô pensando na Copa, pra ser honesto.
Qual foi a sua opinião?
Eu não gostei muito do nosso técnico. Acho que ele não soube usar os bons jogadores jovens que tínhamos. Ficaram meio perdidos em campo.
Sim.
No fim das contas, foi aquele jogo, né? A Alemanha conseguiu expor todos os problemas.
Mas o time era muito talentoso.
Foi um jogo muito duro.
E depois disso, o time perdeu o fôlego.
Mas ainda acho que eram muito bons, apesar do que aconteceu.
Aqui no Brasil foi tão vergonhoso que ninguém ficou triste. Todo mundo começou a fazer piada com a derrota.
Eu sei!
Acho que foi melhor assim.
Se o Brasil tivesse perdido pra Argentina na final, aí sim teria sido devastador.
Concordo. Ver a Argentina perder no final serviu como consolo.
É verdade. Funcionou pra todo mundo.
Bom, estou animado pra ir aí.
Parece que tentaram me trazer duas vezes antes e não deu certo.
Então vai ser ótimo finalmente ir.
Acho que você tem muitos fãs aqui. O show tem uma promoção, as pessoas têm que conseguir um código pela internet. Os ingressos são gratuitos, mas esgotaram muito rápido.
Que bom!
Então vai ser uma plateia animada.
E o lugar parece ter um bom tamanho. Não é um estádio, mas também não é pequeno.
Legal. Vai ser ótimo. Eu toco em qualquer lugar, não importa.
Obrigado pela entrevista!
Obrigado a você!
Nos vemos sábado.
Até lá.
Tchau!
Share this post