Faltou ghost writer no Oscar
Discursos muito longos e sem sentido tomaram conta dos agradecimentos
A cerimônia nem tinha começado e o Conan O’Brien fez uma piada não só desrespeitosa com Ainda estou aqui, como também sem graça.
Se nem o anfitrião, um comediante famoso e tarimbado, salvou, o que dizer dos discursos de Mikey Madison e Adrien Brody?
Brody subiu ao palco já jogando o chiclete pra sua mulher segurar. Depois, ele não parava de falar como era difícil ser um ator, que Hollywood era um lugar difícil e bla bla bla. Aí veio a musiquinha e ele mandou pararem, que essa não era a primeira vez dele. E voltou a falar em como ele era um bom ator. Completo ególatra que perde um tempo danado na maior plataforma que ele tem e poderia citar alguma causa importante, mandar o presidente catar coquinho ou simplesmente ser educado e agradecer os colaboradores brevemente e ir embora. Um chato.
E vamos a Mikey Madison, que tirou a estatueta da Fernanda Torres. Não vou nem dizer que foi injusto porque ainda não vi Anora (e muita gente tá dizendo que é um filme excelente). O problema é que ela começa o discurso já dizendo que nasceu em Los Angeles e que Hollywood era um lugar muito distante da realidade dela. Amiga, você estava concorrendo com uma brasileira, uma atriz trans da Espanha, outra britânica filha de pais nigerianos, negra, queer e bissexual. Você era a concorrente mais próxima de Hollywood geográfica e filosoficamente. Até Demi Moore, que nasceu nos EUA e estava mais perto, teve um caminho difícil. A atriz com vícios, violência na infância, abusos sexuais etc. Olha pro lado na hora de escrever um discurso, sabe?
Momentos bonitos da premiação
É chover no molhado dizer que Walter Salles lavou a alma do brasileiro. Aqui de casa deu pra ouvir o pessoal comemorando e depois apareceram imagens de pessoas em bares e até blocos de carnaval. Nessas horas dá gosto ser brasileiro.
Salles fez um discurso curto e bonito, homenageou Eunice Paiva e as Fernandas Torres e Montenegro. É muito simbólico que nosso primeiro Oscar venha com um filme que retrata um período violento até hoje mal resolvido. Que sirva para não esquecer. Uma curiosidade, não sei se você reparou, é que o Walter colocou óculos de leitura na hora que subiu ao palco, mas não usou um discurso escrito. Ele deve ser daquelas pessoas que coloca o óculos para escutar melhor.
Com todo respeito a Ainda estou aqui e aos brasileiros, o momento mais tocante foi o agradecimento do diretor palestino Basel Adra, que venceu na categoria documentário com No other land. O filme mostra um pouco da realidade na fronteira com Israel. “Espero que a minha filha recém-nascida não tenha a mesma vida que eu, de medo constante”, disse ele. Adra também pediu justiça e o fim da limpeza étnica na região.
O codiretor Yuval Abraham, que é israelense, também criticou a desigualdade entre israelenses e palestinos, pediu a libertação dos sequestrados pelo Hamas e afirmou que a política externa dos EUA ajuda a bloquear a igualdade. “Meu povo só pode ser verdadeiramente seguro se o povo do Basel for verdadeiramente livre”, afirmou Abraham. Foi um raro momento que nos faz ter esperança na humanidade (eu sei que não vai durar muito e logo o Trump já vai fazer essa esperança ir para o ralo na primeira oportunidade).
Faltou mesmo. Faltou também um editor pra evitar piadas idiotas.