Ideias para adiar o fim do mundo*
Estudo de 2019 mostra que plantar 1,2 trilhão de árvores resolveria o problema
Uma coisa que tem me incomodado recentemente é a falta de perspectiva de soluções para as mudanças climáticas. Toda semana lemos dezenas de notícias sobre desastres naturais e como tudo só vai piorar com o atual cenário que temos.
Realmente a vontade do ser humano parece ser a de queimar o nosso planetinha o mais rápido possível. Se puder assassinar algumas milhares de pessoas nesse caminho nas nossas guerras, melhor ainda. Mas existem alternativas.
Em 2019, um estudo publicado na revista Science apontou que o plantio de 1,2 trilhão de novas árvores poderia capturar 25% do CO2 atual na atmosfera e regredir os níveis ao patamar do começo do século 20, quando o aquecimento global ainda não era um grande problema.
Aí você vai me dizer: isso custaria trilhões de dólares e não teríamos onde plantar tudo isso. A pesquisa aponta que 1,8 bilhão de hectares da Terra são de áreas degradadas sem uso urbano ou agrícola. Tá aí a resposta. Ah, mas e o dinheiro? Essa reportagem publicada na Folha mostra que os gastos militares apenas no ano passado foram de 2,4 trilhões de dólares. Que tal se, no lugar de queimar dinheiro pra matar pessoas, nós usássemos essa grana pra salvar o planeta? É questão de vontade.
O único furo nesse plano é que, além de plantar esse monte de árvore, precisaríamos manter de pé todas as florestas atuais, e sabemos que o desmatamento está em curso acelerado. A boa notícia é que, se chegarmos perto do desmatamento zero, estaríamos ao mesmo tempo acabando com uma das maiores emissões de gás carbônico, as queimadas e o desmate.
Claro que isso dependeria de uma mudança drástica de vontade, especialmente dos governantes e dos endinheirados que preferem gastar bilhões pra ficar 8 minutos no espaço. Mas podemos fazer nossa parte.
Em 1997, uma ativista subiu em uma árvore e morou nela por dois anos para evitar que ela fosse derrubada por uma madeireira. Julia 'Butterfly' Hill virou um símbolo da preservação na Califórnia ao conseguir salvar uma sequoia de 1.500 anos, que ela deu o nome de Luna, e 12 mil metros quadrados da vegetação em seu entorno.
Bazzan, eu não tenho trilhões de dólares e não posso morar dois anos em cima de uma árvore. Não tem problema. A SOS Mata Atlântica, uma Ong respeitada aqui no Brasil, tem uma calculadora que mede quantas mudas você precisa plantar para compensar as suas emissões mensais. Eu fiz as contas e com as minhas emissões atuais, preciso plantar 5 novas mudar por mês. Custa 19,90 cada muda e eu já paguei as minhas desse mês. Você pode fazer o mesmo aqui.
Você também pode descobrir meios de emitir menos CO2. Diminuir o tempo do banho, dar uma maneirada na carne, trocar gasolina por etanol no carro, tentar mais deslocamentos a pé, de bicicleta ou com transportes compartilhados, pedir para o seu local de trabalho assumir compromissos de redução de emissões etc. Cada um pode fazer um pouquinho.
Cara, você tem que ouvir isso
Eu conheci a história da Julia Butterfly na newsletter Nevoeiro, da Carol Bensimon. Eu encaminhei o e-mail para a Isabella, que ficou completamente apaixonada pela ação direta da Julia. Em poucos dias, ela estava com uma música pronta. Como sempre, ela escreveu e tocou todos os instrumentos. Geralmente ela grava voz, guitarra e baixo com o celular e um microfone do fone de ouvido e depois vai a um estúdio adicionar a bateria. Dessa vez, ela gravou a bateria aqui em casa também usando um daqueles microfones que vinham no kit multimídia dos computadores dos anos 90. Lembra deles? Além disso, ela usou a mesma técnica do Martin Hannett para gravar o Unknown Pleasures, do Joy Division, e fez captações separadas de cada parte da bateria e deixar o som mais limpo. Coisa de gênio. Na semana que vem eu explico melhor isso.
A música vai ser lançada no dia 17 e você pode fazer o pré-save aqui. Ela também vai fazer um show no mesmo dia, nA Porta Maldita, e você pode comprar ingressos antecipados aqui.
A Kim Deal (ex-Pixies e Breeders) lançou mais uma música legal do trabalho solo.
The Smile, aquela banda paralela do Radiohead (tem o Thom Yorke (vocal) e Jonny Greenwood (guitarra)) lançou um disco novo e não me pegou tanto, mas é bom. Uma curiosidade é que a minha bio/xaveco no Bumble era “Você sabia que o Jonny Greenwood é daltônico?”. É garantia de celibato.
Os showmícios dos democratas são os melhores festivais do mundo, pena que aconteçam apenas a cada quatro anos. Aqui uma rara aparição do Michael Stipe (REM) com o Jason Isbell.
*O título da newsletter de hoje é uma homenagem ao nosso imortal Ailton Krenak. Ele tem um livro chamado “Ideias para adiar o fim do mundo”.
Durante a Flip de 2021, Krenak disse o seguinte:
“Não podemos nos render a essa narrativa do fim do mundo, que nos faz desistir dos sonhos, que estão na memória dos nossos ancestrais. Minha visão de cartografia é aquela visão fantástica do astronauta olhando para a Terra e dizendo que a Terra é azul”.
Bonito né?
Que a sua semana seja tão boa quanto as soluções para salvar o mundo (ou adiar o fim dele).