Isto é água (com microplásticos)
A quem recorrer quando nos sentimos completamente perdidos?
“Estou fora com lanternas, procurando por mim mesma.” - Emily Dickinson
Conversa entre amigos
A
Perdeu a importância com a pandemia ahahahah
B
muita coisa, né? haha
A
Muita, eu tô até desnorteado sem saber qual pessoa eu vou ser quando puder ser alguém
B
Vai ter que ser quem der pra ser. Não temos outras opções haha
A
Eu acho que com o fim da pandemia a ONU deveria embaralhar as personalidades e redistribuir pra ver se fica mais fácil. Ou a OMS, não sei qual seria o órgão adequado
B
hahaha o exército brasileiro
A
Aí eles iam roubar as personalidades das pessoas e ia ter militar com múltiplas personalidades. Deixa do jeito que tá, então
Fim da transcrição





Acabei de ler “O túnel”, de Ernesto Sabato, e queria escrever uma ficção com um personagem um pouco detestável. Não consegui.
Outro dia eu estava procurando um *trechinho que eu adoro do livro “A trégua”, de Mario Benedetti, e me deparei com um texto que comparava “A trégua” com “O túnel”. Tirando o fato de os personagens serem muito solitários, não vi proximidade. Mas o livro é bom também.
Eu tinha 20 e poucos anos e me sentia triste com uma certa frequência. Fui descobrir com Albert Camus que o único problema filosófico realmente sério era o suicídio. Foi ele também que me convenceu de que essa não era a saída.
Como não dá para ler todo ano “O mito de Sísifo” com o mesmo efeito, buscamos novos meios de chegar ao mesmo destino toda vez que nos vemos perdidos, procurando por nós mesmos com lanternas.
Até que descobri “Isto é água”, um discurso do David Foster Wallace para uma turma de formandos em uma faculdade dos EUA.
Tirando o fato de o próprio DFW ter se matado, o discurso envelheceu mal. Tenho certeza que hoje em dia, se estivesse vivo, ele faria uma retificação provavelmente chamada “Isto é água com microplasticos” para nos alertar sobre poluição, mudanças climáticas e apocalipse ambiental.
Não é como se a coisa tivesse boa, mas desde a volta do Trump a Terra virou um grande Fyre Fest e alguns dos organizadores ficam oferecendo barquinhos para Marte. O único problema é que lá não tem oxigênio, não dá pra escapar da Terra. Pelo menos nós ainda temos atrações melhores que as disponíveis no Fyre Fest.
Cara, você tem que ouvir isso
Essa é uma das minhas músicas favoritas do Silver Jews (e do David Berman em geral) e trombei com essa versão do Stephen Malkmus. É curioso como cantar ela é triste, mas ao mesmo tempo parece que ele tá fazendo isso com um sorriso no rosto. Acho que depois de um tempo a tristeza passa e a gente só lembra das coisas boas de quem foi embora.
Esse texto foi escrito, na maior parte, nos sinais vermelhos do caminho para o trabalho enquanto eu ouvia The Cure, Smiths, Flaming Lips e Elliott Smith.
*Caso você tenha ficado curioso por saber qual trecho de “A trégua” eu procurava:
“Usted es la respuesta a una pregunta que nunca me he formulado”.
Ps-o Fyre Fest foi um evento criado em uma ilha por organizadores completamente despreparados que colocaram as vidas de muitas pessoas em risco. Virou até série da Netflix.
A Trégua é lindo 🤍
que beleza esse texto, amigo. parabéns.