Mozart, The Cure e Father John Misty: todos com música nova
E o nosso eterno trabalho de correr para fugir da nossa ignorância cultural
Duas pessoas se encontram em Leipzig, na Alemanha:
- To indo lá na Ópera ouvir a música nova do Mozart. Bora?
- Não tava sabendo. Vamo, sim.
O ano poderia ser 1769, mas é bem provável que tenha acontecido na última semana, quando uma cópia de uma composição inédita foi descoberta pela biblioteca municipal de Leipzig.
Essa nova descoberta me fez pensar sobre a quantidade de produções culturais ao longo da história. Imagino que no fim do século 15, na Europa, existia pouca coisa a mais para ouvir do que Bach, o compositor barroco, não o vocalista do Skid Row. Na década de 1770 Mozart já fazia Salieri passar vergonha numa rivalidade parecida com a de Beatles e Stones, Oasis e Blur, ou Taylor e Charli XCX para a geração Z entender. O número de produções que você tem que conhecer foi se multiplicando com o tempo. Quem foi ver um concerto de Beethoven ali em 1800 morreu sem ouvir Nirvana, mas quem foi ao show do Nirvana em 1991 com certeza ouviu Beethoven, nem que seja no caminhão do gás. Para quem é muito jovem, antes existiam caminhões que passavam pelas ruas vendendo o botijão. No começo o cara ia gritando “Ó O GÁS”, mas a ultragás criou uma musiquinha para que as pessoas pudessem ouvir o som e sair para a rua para fazer a compra, algo como o carro da pamonha, que ainda resiste em alguns lugares. As outras empresas seguiram a fórmula, mas não tinham grana pra pagar um jingle e colocaram Für Elise, de Beethoven, sem precisar pagar nada. Cadê seu deus, ultragás?
A eterna corrida para fugir da ignorância
Uma catapultada no tempo para 2024 e tivemos somente na última sexta mais de 10 novos álbuns lançados. É difícil acompanhar todas as novidades e não ficar obsoleto, e olha que eu ouço muita coisa a contragosto, só pra poder falar mal com propriedade.
Mas não são apenas as coisas novas que nós precisamos ir atrás, mas tudo aquilo que veio antes e a gente não conhece. Ou alguém aqui já ouviu a discografia completa do Robert Pollard, do Guided by voices? Durante a pandemia eu resolvi passar a limpo algumas obras completas de bandas de rock pesado. Consegui dar conta do Van Halen, do Black Sabbath e do Led Zeppelin. Não me aventurei por Iron Maiden. Eu tenho uma teoria que algumas coisas têm um limite de idade. Se você foi um adolescente que cresceu ouvindo metal, você vai ao show do Iron várias vezes com toda a satisfação do mundo, mas não tem como você virar um metalhead com 30 ou 40 anos nas costas. Essa fase já passou. O mesmo vale para filmes de dragão, herói e espaço. Eu confesso que recuperei 9 temporadas de Game of Thrones pra poder entender o hype durante a décima e até gostei, mas parecia um trabalho. Não me levem a mal, eu adoro meu trabalho, mas gosto mais de não trabalhar.
Cara, você tem que ouvir isso
Na última semana eu te mandei um e-mail extraordinário para alertar sobre a possibilidade de ouvir o novo disco do Father John Misty, que sai só no fim de novembro. Imagino que nem todo mundo tenha conseguido abrir na hora. Aos poucos, vou pegando melhor o jeito e aceito sugestões, mas gostei das músicas.
Sobre o disco. Ainda tem uma faixa com um resquício do jazz que ele tentou em Chloë and the Next 20th Century, que eu não gostei, mas de resto ele volta pra pegada God’s Favorite Customer. O primeiro single, I Guess Time Just Makes Fools of Us All, tem uma pegadinha dançante e disco, não bateu. Já Screamland veio no alvo.
O The Cure também deu um spoilerzinho da sua primeira inédita em 16 anos. Alone vai ser lançada na próxima quinta e faz parte do disco Songs of a lost world. Gostei do pouco que pude ouvir.
Gostou? Compartilhe com os amigos. Odiou? Pregue uma peça no seu maior inimigo e mande este texto horroroso pra ele. Que a sua semana seja melhor que a reação das empresas de gás que passaram a usar Für Elise e puxaram o tapete da ultragás.
o cure abriu o show no primavera com alone, lembra? eu lembro que tava tipo vc no texto: "como assim eu nunca ouvi _a música de abertura_ do show do cure?? como deixei passar?" mas achei incrível. no dia seguinte ao show, descobri que alone não tinha sido lançada - até essa semana. que música.