Terminei recentemente o livro do Jarvis Cocker. O subtítulo “Um inventário” é porque ele basicamente resgata tralhas de um sótão antigo e, por meio dessa memorabilia, conta a história dos primeiríssimos anos do Pulp, quando eles ainda eram uma banda de garotos de uma escola de Sheffield.



O livro demora um pouco para engrenar porque ele não foge de falar sobre quinquilharias completamente desimportantes, mas tem trechos tocantes, como o de como ele ganha a primeira guitarra da vida. Jarvis foi fruto de uma gravidez não desejada e os pais acabaram se casando por obrigação. Claro que isso foi uma receita para o fracasso. Seu pai saiu de casa e foi morar na Austrália, mas mantinha contato por carta. Nessas cartas, ele com frequência mentia sobre presentes enviados pelo correio, então o Jarvis não se surpreendeu muito quando um namorado da mãe que tinha prometido uma guitarra apareceu no natal só com uma mala. Só que o cara abre a mala e lá dentro estavam o corpo e o braço desmontados. Eu chorei no meu horário de janta lendo essa parte.
Outra coisa que me pegou muito foi que ele conseguiu entregar uma fita cassete para o John Peel. A Gaía conta sobre a importância desse radialista inglês em duas edições da Tá todo mundo tentando aqui e aqui. O Peel ouviu a fitinha e convidou a molecada para uma sessão. No livro, Jarvis mostra os rascunhos da carta que escreveu para confirmar a participação. Parece um adolescente tentando impressionar uma garota, e ele realmente estava saindo da adolescência. O Pulp é a banda com maior distância entre as duas primeiras gravações do Peel Sessions. Na primeira, em 1981, eles eram apenas uns moleques e na segunda, em 1993, faziam parte da sensação britpop liderada por Blur e Oasis (parece que os irmãos Gallagher vão passar por aqui no ano que vem. Estão deixando a gente sonhar).
Nas diversas aparições do Pulp no Peel Sessions, a constante é sempre o Jarvis. Foi ele quem começou a sonhar com a banda quando ainda era criança e foi ele quem seguiu fracassando com ela até que ficasse relativamente famosa. Ele desafia toda a ideia de uma banda com formação clássica. Mas o que é uma banda?
Ontem fui ao meu terceiro show do Smashing Pumpkins, o primeiro com uma formação perto da original (a baixista D'arcy Wretzky não faz parte dessa reunião). Billy Corgan é um tipo de Jarvis Cocker às avessas. No lugar de construir uma banda de sucesso aos poucos durante mais de uma década, ele conseguiu fazer hits já no começo da carreira e ao longo dos anos foi desmontando o grupo.
Em 2010, vi eles no festival Planeta Terra com um baterista muito jovem e apenas Billy entre os fundadores. Decepcionante. Em 2015, ele veio com uma superbanda, com Brad Wilk (Rage Against the Machine e Audioslave) na bateria, Mark Stoermer (The Killers) no baixo e Jeff Schroeder (que tem mais tempo de Smashing Pumpkins que D’arcy e James Iha, fundadores do grupo ao lado de Billily e Jimmy Chamberlin) na guitarra. Foi o melhor dos três shows que vi por ter um set mais recheado de hits e com uma banda impecável, pesada e sem solos desnecessários. O show de ontem também foi mágico, mas num lugar super cheio e com cerveja a R$ 18.
Enfim, o combo Pulp e Smashing Pumpkins, e o lançamento do novo álbum do the Cure, outra banda de um homem só, me fizeram pensar no que constitui uma banda. Por que esses artistas não seguiram em carreira solo? (Bem, o Jarvis tem discos solo bem legais). Comecei a pensar que talvez o símbolo de uma banda talvez fosse o vocalista, o carisma da pessoa na frente. Aí me lembrei automaticamente de Van Halen, Black Sabbath e Barão Vermelho e percebi que não era bem isso (ou não era só isso). Talvez o compositor fosse a alma, mas o que dizer do Pink Floyd? No final das contas, acho que não existe uma fórmula, apenas uma mágica que pode ser replicada trocando integrantes (ou não, no caso de The Doors, Led Zeppelin e tantas outras que morreram junto com algum integrante essencial).
Se você tiver alguma opinião sobre isso, me diga.
Só pra finalizar, compartilho aqui o vídeo do Billy Corgan contando como compôs 1979 ao pensar na vida ferrada que ele levava durante um sinal vermelho no trânsito.
Cara, você tem que ouvir isso
No sábado (9), a Miragem vai fazer o show de lançamento do disco Muitos caminhos prum lindo delírio e a Schlop também toca. Isabella e Camila fizeram cartazes para o evento, e você pode comprar ingressos antecipados aqui.


Tive contato recentemente com a artista Julia Ro. Ela já tem um clipe da música I don't want to talk about it, uma homenagem ao pai dela. Um vocal quase falado no estilo Patti Smith e uma guitarrinha com bateria ao fundo. Tenho curiosidade de ouvir mais coisas.
Amyl and the sniffers vem ao Brasil no ano que vem e também tá com disco novo. Além da barulheira boa de sempre, algumas faixas mais melodiosas em que a Amy canta com uma voz grave surpreenderam positivamente.
Eu já falei sobre o Thus Love por aqui, parece um Arctic Monkeys punk. No novo álbum, a voz do Echo Mars está ainda mais parecida com a do Alex Turner. Isso é um elogio, tá?
O LCD Soundsystem soltou um single novo e prometeu um discão de inéditas sem data para acontecer. A música é meio que mais do mesmo do que eles já fizeram, mas não é ruim. Vamos aguardar o que vem por aí.
Eu conheci o Mount Eerie em 2017 quando o Phil Elverum lançou A crow looked at me depois que a mulher dele morreu. É das coisas mais tristes que você vai ouvir na sua vida. Tem um pequeno documentário sobre ele e a filha que ele passou a criar sozinho. Ela é uma fofa. Pois bem, agora ele lançou um álbum, Night palace, que mistura as coisas sussurradas no estilo A crow looked at me com muito barulho. Meu cachorro levou um susto quando eu coloquei pra tocar na Alexa. Ele tem outros projetos, o mais notável se chama The Microphones. Aqui o documentário que eu falei:
Respiros de São Paulo
Quanto pior o governante e a situação da cidade, mais precisamos de pequenas tréguas no meio do dia para respirar melhor (não só filosoficamente). Por esse motivo, vou começar a compartilhar aqui livrarias, sebos, cafés e outros lugares que fazem de São Paulo um lugar mais habitável.
Esse é o sebo Tucambira, que fica perto do largo da Batata, em Pinheiros. Não sei muito sobre ele, mas sei que é uma janelinha com livros no meio de muito barulho e obras subindo.
Você tem algum lugar especial pra compartilhar? Me manda.
Espero que sua semana seja melhor que a melodia de 1979, do Smashing Pumpkins.