Todo mundo te ama quando você está morto
Mesmo que esse amor seja demonstrado das formas mais esquisitas. E dicas de novas bandas.
Os humanos adoram morte. Não conseguem viver sem alguma guerra, gostam de um filme bem violento. Série sobre stalker ou assassino em série? Garantia de sucesso. Mas, por mais que gostemos de matar, temos um senso de responsabilidade com os mortos. Adoramos criar rituais em homenagem a quem morreu. O caso mais extremo disso é o cristianismo, que alega ter torturado, crucificado e matado o filho de Deus para que ele pudesse perdoar nossos pecados. Claro que depois disso ele ressuscitou e subiu ao céu tal qual um super-homem, mas a igreja preferiu eternizar o momento do Cristo morto e torturado e pendurar uma cruz em cada capela e catedral, inclusive fazendo criancinhas beijarem essa imagem de extrema violência. Uma pessoa mais bem intencionada vai dizer que nada disso é pra ser levado ao pé da letra, são apenas símbolos para nortear um código moral. Eu gostaria que essa pessoa pudesse conversar com a bancada evangélica.
Em Paris, a cidade que mais recebe turistas no mundo, alguns dos principais pontos de interesse são lugares onde pessoas mortas estão enterradas. Catacumbas, túmulo de Napoleão, Panteão e cemitérios. No Père-Lachaise, onde Jim Morrison e Oscar Wild estão sepultados, você encontra todo tipo de figura célebre. Proust, Modigliani, Anna Karina, Édith Piaf. Me chama a atenção dos fiéis de Allan Kardec, pai do espiritismo, adorando um túmulo de uma pessoa que, de acordo com o ideário delas, já reencarnou há muito tempo. Nós somos uma raça contraditória.
Perto do túmulo do Jim Morrison sempre tem bebidas jogadas, muita sujeira e chicletes colados em uma árvore porque a lápide foi cercada e não dá mais para chegar perto. Pelo cemitério, várias placas avisam que qualquer tipo de sujeira ou depredação será cobrada das famílias dos mortos. Imaginem o pai do Jim, homenageado pelo filhão com o verso “father, I want to kill you”, recebendo todo mês um boleto novo. Não é legal.
Já no túmulo de Oscar Wild, as pessoas costumavam deixar marcas de beijo com batom. Era um gesto mais simpático e bonito, apesar de não muito higiênico.
A administração do cemitério não deixou barato. Limpou todas as marcas de batom e demais pichações e colocou uma grande proteção de acrílico em volta.
Depois disso, você imaginaria que os fãs de Oscar Wild desistiriam de qualquer nova homenagem, mas por que não dar beijos em um pedaço de acrílico?
Cara, você tem que ouvir isso
Durante a minha passagem por Paris, fui a um festival chamado Block Party, que acontecia em diferentes casas no mesmo quarteirão. Muitas bandinhas legais, mas as duas que eu mais gostei foram Teenage Dads, da Austrália, e TTSSFU, da Inglaterra.
O Teenage Dads tem uma pegada bem pop com um jeitinho de Strokes e Phoenix, mas com um vocalista bem simpático e animado. Já o TTSSFU é, teoricamente, um projeto solo da Tasmin Nicole Stephens, só que no festival ela tocou com uma bandinha redonda, O guitarrista parecia o Bernard Sumner na época do Joy Division e o baixista um Rivers Cuomo mais bonito, todos muito muito jovens. O som me lembrou muito Alvvays, mas na descrição dela no Spotify diz que as influências são My Bloody Valentine, Sonic Youth e Microphones.
Essa música aqui ela disse que fez para o Adam Driver. Alô, Adam.
Que a sua segunda seja mais sobre ressurreição que crucificação.
Fim das transmissões.
dica: na página da ttssfu do spotify, ela tem duas playlists com músicas e artistas que são inspirações para as músicas dela e as duas seleções são chic 10