Vamos mudar o mundo, mas antes vamos dar a bunda
E os relançamentos da The Gits e mais um show da Schlop
"When you're a kid, everyone, all the world, encourages you to follow your dreams. But when you're older, somehow they act offended if you even try" - trecho do livro The hottest state, de Ethan Hawke (ele também dirige e atua no filme de mesmo nome).
Já faz um tempinho que eu toco essa newsletter com periodicidade semanal e nesse tempo alguns desconhecidos, sabe-se lá por que, passaram a acompanhar meus textos (o curioso é que muitos amigos não ligam pra eles. “Michael, Michael”). Pensei, então, em fazer uma apresentação pra quem não me conhece, algo como a mania de paulistano de perguntar “mas cê tá bem?” uns 40 minutos depois que conversa começou. A primeira informação tá aí: não sou paulistano, apesar de morar em SP há quase 15 anos.
Sinto que fui uma criança com algum potencial e que nunca atingi essas potencialidades. Aos 13 eu já era o segundo melhor jogador de futebol da escola (aprendi com um bar fuleiro do interior que ao não dizer que você é o melhor você ganha credibilidade, mas nesse caso é verdade). Mesmo assim, nunca avancei na base do Botafogo de Ribeirão Preto. Aos 17 passei em primeiro lugar em uma faculdade de zootecnia. Uma das coisas que me irritava no curso é que ninguém sabia o que fazia um zootecnista (por esse motivo, não vou explicar também aqui. Dê seus google). Acredite ou não, eu sou formado em zootecnia, mas trabalhei muito pouco nessa área.
Depois fiquei 7 anos trabalhando em uma fábrica de móveis que atendia bancos e repartições públicas. O meu salário era proporcional à minha infelicidade. Por algum motivo, os bancos todos queriam sempre mobiliários cinzas e eu tinha que decorar diversos tons de cinza (não chegava a 50).
Aos 30 prestei vestibular de jornalismo e, não sei como, passei. Quando me faltou coragem pra largar tudo e ir morar em SP, um amigo falou: “se você não fizer isso, vai se arrepender pra sempre. Eu conheço 3 pessoas que podem te ajudar a arrumar emprego”. Eu morei alguns meses de favor com um outro amigo e esses meses viraram anos (pelo menos eu dividia o aluguel). Depois de algum tempo, pedi o contato das 3 pessoas que iriam me ajudar.
A primeira disse que estava saindo do país, a segunda afirmou que eu tinha escolhido um péssimo momento para ser jornalista e que ela mesma estava passando por uma transição de carreira, e a terceira sugeriu que eu fizesse análise porque a minha trajetória era muito inconstante. Insira aqui a citação do começo do texto.
Depois de centenas de envios de currículo, alguns nãos e muitas solicitações ignoradas, eu finalmente consegui emprego em um jornal de grande circulação. Eu iria mudar o mundo, ou pelo menos atrapalhar as pessoas que lutavam para deixar tudo como está. Eu pensei que participaria de debates importantes sobre os rumos do país e do mundo, mas de alguma forma o debate que mais ficou na minha cabeça foi se o jornal iria imprimir a bunda da Paola Oliveira na primeira página. Nada parecido com os filmes do Billy Wilder ou com Todos os homens do presidente.
O editor de cultura consultou um dos editores executivos sobre publicar uma nota sobre a mais nova série com a atriz. A foto seria da Paola seminua abrindo uma cortina. O debate foi ganhando participantes e a foto começou a ser cogitada para a capa. Claramente não era um dia movimentado. Até que a diretora da redação veio ver o que estava provocando uma discussão tão acalorada. “Estamos pensando em dar uma foto da bunda da Paola Oliveira na primeira. Mas é uma imagem de bom gosto, bonita, nem um pouco vulgar”, explicou o editor executivo. A diretora pediu para ver a foto e finalmente deliberou: “Vamos dar a bunda”. E assim foi feito.
Cara, você tem que ouvir isso
Ainda parte da minha história. No primeiro carnaval sem pandemia, eu conheci a Isabella, que é minha atual namorada, esposa, companheira ou “conje”, como diz o senador. Além de toda a alegria que ela me dá apenas sendo o que ela é, a Isabella me incentivou a fazer letras que depois ela musicou. É uma parte pequena da minha vida, mas ela existe.
Aproveitando, nesta sexta tem mais um show da Schlop, a banda da Isabella. Vai ser no Cafundó, no largo da Batata, pertinho do metrô Faria Lima. As bandas Nietts e Pata Söla também tocam e, se você não puder ir, na semana que vem eu falo sobre elas aqui.
Agora um assunto não relacionado comigo. A gravadora Subpop vai relançar a discografia da The Gits, uma das histórias de banda mais trágicas de Seattle (acredite em mim. Kurt, Layne e Chris não passam perto). A vocalista Mia Zapata morreu bem quando a carreira deles estava decolando, no começo dos anos 90. O NYT fez uma matéria sobre eles e conta mais sobre o relançamento. Eles também fizeram um clipe para a música Second skin.
Fim das transmissões. Que a sua semana seja tão boa quanto o faro editorial dos meus ex-chefes.
Ps-meu nome é Alexandre, mas todo mundo me chama de Bazzan (um sobrenome que eu nem gosto, mas estou tentando ressignificar a todo momento. Quem sabe eu consiga um dia). Prazer.
Sou mais a bunda da Paola, com todo respeito
ótimo conteúdo. ao invés da bunda da Paola, sua foto no espelho deveria ir para a capa.